quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Uma nova vida para fruta e legumes «errados»

A partir de 1 de Julho de 2009 vai haver uma nova vida para as frutas e produtos hortícolas dos estados membros da UE. Um mundo completamente diferente onde há lugar para grandes e pequenos, magros e gordos, feios e bonitos, perfeitos e deformados, de cores fortes e esbatidas, saborosos e desenxabidos.

Tudo isto porque a Comissão Europeia decidiu que damascos, alcachofras, espargos, beringelas, abacates, feijões, couves-de-bruxelas, cenouras, couves-flores, cerejas, aboborinhas (courgettes), pepinos, cogumelos de cultura, alhos, avelãs com casca, couves-repolhos, alhos franceses, melões, cebolas, ervilhas, ameixas, aipo de folhas, espinafres, nozes comuns com casca e chicórias whitloof vão poder ser vendidos independemente da sua forma ou tamanho, ou seja sem terem de obedecer a um padrão pré-definido de forma.

A justificação é que «na actual conjuntura de preços elevados dos produtos alimentares e de dificuldades económicas generalizadas, os consumidores devem poder escolher entre a mais vasta gama de produtos possível».

As normas de forma e tamanho mantêm-se, no entanto, para as maçãs, citrinos, kiwis, alfaces, pêssegos e nectarinas, pêras, morangos, pimentos doces, uvas de mesa e tomates. Mas mesmo estes podem ser vendidos sem obediência às normas desde que sejam rotulados nesse sentido.

Na prática, o que acontece é que acabam as formas erradas. Está aberto o caminho para o pepino torto, as cenouras siamesas e nodosas, os morangos pequeninos e até para as saborosas maçãs bichentas. Estes frutos e legumes outrora recambiados para compotas ou até com sentença de morte à nascença vão poder pavonear-se nos caixotes das mercearias e supermercados e plantar-se orgulhosamente ao lado dos perfeitinhos, ou até à frente se forem mais baratos.

As minhas recordações de infância fazem-me aplaudir esta medida. Os frutos e legumes raquíticos, alguns bichentos, alguns cheios de pevides, outros azedos, outros feiosos, mas saborosos, sem dúvida, dos quintais dos amigos e familiares nunca foram para o lixo e sempre fizeram as delícias de todos.

Se os preços ao consumidor destas frutas e legumes «errados» descerem, aplaudo ainda mais. A falta que estes alimentos fazem às crianças cujas famílias são obrigadas a cortar em bens essenciais justificaria que, de facto, os preços baixassem.

Apesar disso, a Confederação dos Agricultores de Portugal já disse que isso não vai acontecer e deu como exemplo o preço dos combustíveis, cujo barril de petróleo tem descido sistematicamente, mas isso não se reflecte no preço final para o consumidor português. Esperemos que não tenham razão. Mas não deixa de ser perturbador que recorram ao exemplo dos combustíveis condenando, à partida, uma medida que pode ser positiva.




por Luísa Melo in IOL Diário

Sem comentários: