segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sepultou a mãe dentro da despensa de casa


Quando entraram pela despensa da casa de João José Canto, polícias e bombeiros não queriam acreditar. Embrulhado num saco de plástico e dentro de um casulo de espuma, o corpo da mãe do engenheiro não tinha cabeça. O filho cortou-a com a faca da cozinha. E se dúvidas tivessem sobre o dia e hora do crime, os inscritos com tinta de spray por cima da sepultura improvisada não deixam dúvidas. Data de nascimento e da morte da vítima: 30 de Setembro, 16h00. Por fim, a frase com que João, 46 anos, se despediu da mãe: "Os decepados são frescos".

Sempre calmo, discurso coerente. Foi assim que João se apresentou sexta-feira à PSP de Castelo Branco, dez dias depois de matar a mãe à pancada na casa em que esta vivia na Venda Nova, Amadora, e ontem manteve a mesma serenidade frente ao juiz do Tribunal de Sintra. Por isso não foi internado em qualquer ala psiquiátrica e recolheu em prisão preventiva como qualquer homicida. Naquela tarde de 30 de Setembro, Lucinda do Canto, aos 68 anos, estava radiante. O filho prometera levá-la a passar uns dias à terra, na aldeia de Almaceda, Castelo Branco. Antes das 16h00 já ela estava de malas prontas à porta.

O filho saiu de casa, em São Marcos, Sintra, e foi lá ter. Lucinda já tratava dos últimos pormenores para a viagem quando João a apanhou de costas e lhe desferiu uma primeira pancada na cabeça com um maço de calceteiro. A mãe respirava, já no chão em agonia, quando ele lhe aplicou o golpe fatal. Foi buscar uma faca à cozinha, decapitou a mãe, deixou lá a cabeça e levou o corpo para sua casa, antes de partir sozinho para Almaceda.

Chegou à aldeia e, dez dias depois, chamou a PSP. Motivo: queria suicidar-se, tal como a mãe pensou fazer quando o pai era vivo e a maltratava, mas a vida na família tinha de seguir o ciclo normal. Gostava da mãe mas, para ele se matar, ela teria de morrer primeiro. Cortar-lhe a cabeça foi tão só por gostar da imagem de um corpo decepado.

"O JOÃO ERA POUCO SIMPÁTICO"

Martinha de Freitas acredita ter sido uma das últimas pessoas a ver Lucinda do Canto com vida. A vizinha do rés-do-chão da vítima do crime macabro de São Marcos, Cacém, recorda que a mãe de João do Canto lhe bateu à porta, há pouco mais de uma semana, para pagar o condomínio do prédio da rua Elias Garcia, Venda Nova, Amadora. "Ela ia para a terra (Almaceda), mas antes ia ver o filho", sublinha Martinha que acrescenta: "O João era pouco simpático. Mal falava às pessoas".

"DISSE PARA NÃO TERMOS PENA DELE"

João Canto estava com a camisa "ensopada de sangue" quando apareceu em Rochas de Baixo, próximo de Almaceda, sexta-feira, às 08h30. Pediu a Manuel Freire para ligar ao INEM, sem dar explicações. A sua grande preocupação era "não sujar o telefone com o sangue que tinha nas mãos e pediu um pano". Limitou-se a dizer que "tinha muito que contar", mas só admitiu ter tentado suicidar--se. Bebeu uma caneca de leite dada por Clara Martins e apenas "disse para não termos pena dele".

ALMACEDA CONFRONTADA COM "A VERDADEIRA HISTÓRIA DE TERROR"

As opiniões sobre João Canto dividem-se na aldeia de Almaceda, Castelo Branco, de onde é originária a sua família e onde têm casa. Uns descrevem-no como uma pessoa "certinha e respeitadora", enquanto outros acentuam a sua frieza. Mas todos são unânimes ao classificarem o crime como "a verdadeira história de terror". Alguns, horrorizados, dizem que "deveria morrer" e já anteriormente tinham notado que "não dava a atenção devida à mãe, que era doente".

João Canto nasceu em Lisboa, mas passava férias em Almaceda e foi numa aldeia vizinha, Rochas de Baixo, que foi pedir ajuda na sexta-feira, depois de ter tentado o suicídio. A prima, Fátima Canto, só acreditou quando foi a Castelo Branco para o ver, mas, pelo que lhe foi dito, ele recusou falar com a familiar.

Há quem já anteriormente tivesse reservas relativamente a João Canto, por não acompanhar a mãe, doente, à aldeia a partir do momento em que o pai morreu. Fátima Canto tem uma explicação: "A ideia dele era ajudá-la a tornar-se independente, porque ela tinha a doença dos nervos e o seu feitio não era fácil".

A trabalhar em informática mas com "uma grande paixão pela electrónica", João Canto sempre se dedicou "ao desenho, fazendo o retrato de familiares". À excepção destes, o homicida nunca teve contacto com a população. "Era distante", classificam. A prima confirma que nunca "foi muito dado a saídas". Só lhe conheceu uma namorada, com quem viveu, mas de quem já se separou. Do que conhece da sua personalidade entende que "não vai conseguir viver com isto [ter morto a mãe]".

PORMENORES

PAI FOI EMIGRANTE

O pai de João José do Canto morreu há dois anos. O homicida herdou, com a morte do progenitor, várias casas na zona da Amadora e Sintra, e uma quantia em dinheiro no banco.

VIVIA DA REFORMA

Lucinda do Canto, que morreu às mãos do filho João José, vivia da reforma. A mãe do homicida trabalhou décadas numa fábrica na zona da Amadora.

CONDOMÍNIO EM FALTA

Há mais de um ano que João José Canto não pagava o condomínio do prédio onde habitava, em São Marcos, no Cacém. "Era pessoa de poucas falas. Vinha às reuniões, e nada dizia", disse ao ‘CM’ um vizinho do homicida.


Henrique Machado
in Correio da Manhã

5 comentários:

Unknown disse...

Agora que isto aconteceu e se descobriu, é dificil compreender o que esta "coisa" fez. Moro no mesmo prédio que este individuo mora(ou), era uma pessoa de poucas falas, mas nunca me levou sequer a pensar ser possível de ter actuado assim. Fiquei completamente perplexo ao saber da notícia. A casa desta "coisa" ficou num estado lastimável. Só visto mesmo para se acreditar no que este louco fez. Sem mais palavras ou comentários.

anademar disse...

pela foto ninguém diria... tem um ar tão certinho!

Eu Próprio disse...

Relativamente ao ar certinho..... não sei muito bem o que dizer. Pois para mim há ali qualquer coisa.....
Claro que se o visse na rua não ia apontar e dizer MATRÍCIDA!
Mas mesmo assim há ali qualquer coisa.

anademar disse...

era uma ironia... (por escrito é difícil...) matrícida não sei, é demasiado específico, mas aplicava-lhe a etiqueta do serial killer na boa!!
eu próprio: não há ali qualquer coisa, há ali MUITA coisa... ;-)

anademar disse...

matrícida não porque é demasiado específico, mas talvez... serial killer! era uma ironia! por escrito é difícil... :-)