sábado, 24 de maio de 2008

Marquês de Sade

Marquês de Sade



A 2 de Junho de 1740, nasce, em Paris,

Donatien-Alphonse-François de Sade, conhecido por todos e para sempre como Marquês de Sade.
Encarcerado durante quase metade da sua vida, tornouse, por essa razão, um paladino da liberdade. Foi, sem dúvida, um homem à frente do seu tempo.
Descendente de uma das mais antigas famílias nobres de França, parente dos Bourbon, viveu, contudo, uma existência conturbada. Numa tentativa de recuperar o esplendor de outrora, o seu empobrecido pai casou-o com Renée-Pélagie de Montreuil e foi, em parte, graças a este casamento que Sade passou cerca de 30 anos na prisão, sob três regimes diferentes, monarquia, república e império.
O seu sogro era o Presidente honorário do Tribunal de Ajudas, em Paris; era um indivíduo fraco e completamente dominado pela mulher.
Desde cedo que as aventuras sexuais do Marquês se tornaram conhecidas e, quer para a sua família como para a de sua futura mulher, o casamento serviria para
lhes pôr cobro. O Marquês chegou a acreditar que assim seria, mas logo se revelou infundada a esperança. A sua compulsão era mais forte.
Quando se apresentou em casa dos Montreuil conheceu uma das filhas do magistrado.
Quando seu pai o pôs a par dos seus planos de casamento, aceitou alegremente.
Quando trocou os votos com Renée era manifesta a desilusão no seu rosto.
Todavia, Sade assumiu o seu casamento bem como os filhos que dele nasceram.
Viveu quase sempre, porém, sozinho.
A família ostracizou-o. Divorciou-se da sua mulher. Os seus dois filhos emigraram.
Por que razão as aventuras de Sade o conduziram à prisão?
Sade nunca matou ninguém, nem tão pouco os seus jogos sexuais alguma vez conduziram ninguém à morte. Outros, assassinos e violadores, como o Duque de Charolais, nada sofreram: quanto a este conta-se que os gritos das suas vítimas ecoavam por toda a cidade de Paris.
Então, repita-se, por que motivo foi Sade perseguido?
Primeiro, porque fez da sua sogra uma inimiga mortal (mais tarde, enquanto juíz no tribunal da revolução, os seus sogros apresentaram um pedido de misericórdia:
Sade concedeu-a, quando qualquer outro a teria recusado por vingança) e, segundo, porque a sua obra causou espanto e medo.
Quanto à primeira razão, cedo a sua sogra obteve do rei uma lettre de cachet que nada mais era que um mandado de prisão assinado pelo rei com o nome do preso em branco; o comprador preencheria o nome. E foi o que a sua sogra fez. Este mandado, contudo, possuía uma outra característica: a pessoa seria presa sem julgamento.
Exemplo do segundo motivo pelo qual Sade passou a maior parte da sua vida na prisão, foi a publicação das suas obras “Justine” e “Histoire de Juliette”.
Napoleão Bonaparte, responsável por enviar para a morte de milhares de soldados, sentiu-se horrorizado ao ler as obras e ordenou que o seu autor fosse preso até ao fim dos seus dias.Se, por um lado, foram estas as razões do encarceramento de Sade, foi também esta a causa da prolífera e, para mais, bastante sui generis, obra literária que nos deixou.
Deixa-se aqui uma lista das suas principais e mais conhecidas obras:
«Dialogue entre un prêtre et un moribond» (1782)
«Historiettes, contes et fabliaux» (1788)
«Les crimes de l’amour» (1788)
«Les infortunes de la vertu» (1787)
«Justine» (1791)
«La philosophie dans le boudoir» (1795)
«Les 120 journées de Sodome» (1785)
«La nouvelle Justine» (1797)
«Histoire de Juliette» (1801)
Porém, nem todos os seus escritos lhe sobreviveram.
Alguns foram destruídos ainda em vida do autor: quando foi ocupado o Castelo de “La Coste” e durante a tomada da Bastilha.
Depois da sua morte, em 1814, um dos seus filhos encarregou-se de mandar queimar grande parte da obra maldita do pai.
Todavia, grande parte da obra de Sade sobreviveu ao seu autor.
Olhando retrospectivamente, e separando o homem da sua obra, podemos dizer que Sade pouco ou nada tinha de sádico. Embora alguns episódios de violência consentida tivessem sido, à época, objecto de escândalo público.
Foi vítima, isso sim, de uma era em que os direitos do indivíduo ainda eram embrionários. Em que a liberdade de criação e a liberdade de expressão eram mera utopia. E em que a imposição de regras morais não tinha em conta a liberdade recíproca das relações adultas e consentidas.
Simbolicamente fizemos constar a data de 1772, dado que Sade foi acusado de envenenamento na cidade de Marselha. Porquê? Pelo simples facto de ter distribuído, durante uma orgia, comprimidos afrodisíacos a quatro prostitutas, tendo uma ficado, posteriormente, doente.
Foi condenado à revelia, preso sem julgamento. Sem ser ouvido, evadiu-se.
Em fins de 1793, foi preso e condenado à morte. Esquecido na sua cela, por causa de um erro administrativo, escapou à guilhotina e é libertado em 1794.
Em 1801 por intervenção policial, que não perdoa a violência erótica dos seus escritos e a pornografia das suas imagens literárias, é, mais uma vez, detido por simples decisão administrativa, sem julgamento, e internado num asilo de alienados de Charenton.
Foi apelidado de louco. Mas estava perfeitamente lúcido.
Não obstante as suas súplicas e protestos veementes, não mais recuperou a sua liberdade, e veio a morrer em 1 de Dezembro de 1814.
Em 74 anos de vida, 30 foram de provação, pela privação de liberdade.
Dos três momentos em que foi, e se manteve, preso – e que atravessaram os três regimes conhecidos pela sua França contemporânea – em nenhum deles foi submetido a julgamento.





Recomendo vivamente os 120 Dias de Sodoma!




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