domingo, 6 de fevereiro de 2011

Estrangula marido agressor com a ajuda dos dois filhos

Os gritos desesperados de Emília Sousa, de 40 anos, alertaram anteontem à noite os dois filhos. No pátio da casa, em Vila Boa do Bispo, Marco de Canaveses, a mulher lutava contra o marido, António Conceição, de 43 anos, que a tentava estrangular com uma corda. Os dois jovens, uma menor de 14 anos e um rapaz de 13, atacaram de imediato o pai. António empunhou uma pistola e Emília reagiu: pegou na corda com que quase foi morta e estrangulou o marido.

A mulher ligou de imediato à GNR do Marco de Canaveses, a quem confessou o desespero vivido pela família. Foi detida pela Polícia Judiciária do Porto e presente a tribunal, onde os filhos esperaram que fosse ouvida. O juiz entendeu que o crime foi cometido em legítima defesa e libertou Emília.

"Ele chegou a casa embriagado e tentou matá-la. Ela apenas se defendeu e os meninos só tentaram impedir que a mãe fosse assassinada. Não tinham intenção que as coisas acabassem assim", contou Leonor Sousa, irmã de Emília.

Às autoridades, Emília relatou o crime ao pormenor. Contou que António chegou a casa por volta das 23 h00, altura em que ela se encontrava a dormir num sofá colocado no quarto da filha. Explicou ainda que foi arrastada para fora de casa pelo marido que, enfurecido, pegou numa corda e tentou estrangulá-la. Emocionada, Emília recordou também aos elementos policiais que os filhos vieram em seu auxílio e empurraram António, que caiu ao chão e bateu com a cabeça numa pedra. O agressor teve ainda forças para se levantar. "É hoje que te vou matar", disse António, enquanto empunhava uma pistola.

A mulher adiantou ainda que o que se passou de seguida terá sido muito rápido. Os menores tentaram mais uma vez afastar o pai e Emília tentou imobilizá-lo. A intenção seria apenas parar com o ataque do marido, mas acabou por puxar demasiado as pontas e António morreu estrangulado. Pensava que ele tinha desmaiado.

"ELE NUNCA SE IMPORTOU COM A MULHER E AS CRIANÇAS"

Emília nunca revelou a ninguém o sofrimento que vivia em casa. Trabalhava várias horas por dia para tentar dar uma vida melhor aos dois filhos. Os problemas de alcoolismo de António já eram, no entanto, há muito conhecidos entre os vizinhos.

"Ela sempre trabalhou muito. Fazia tudo pelas crianças e abandonou um emprego que gostava muito só para ganhar mais cem euros num outro local. Ele nunca se importou com a mulher e as crianças", disse ao CM Teresa Nunes, de 43 anos.

Os vizinhos garantem ainda que António não contribua para as despesas da família. "Gastava tudo no vinho", acrescentou Teresa.

AUTORIDADES CHOCADAS

O crime cometido num cenário de enorme violência chocou as autoridades, que não queriam acreditar quando os menores e a mãe confessaram estar envolvidos na morte. A história de sofrimento da família e o envolvimento não intencional dos dois menores na morte do próprio pai sensibilizou os militares chamados ao local e os próprios inspectores da Judiciária.

Quando as autoridades chegaram ao local do crime, mãe e filhos encontravam-se ainda junto ao corpo de António. Os menores estavam em estado de choque.

"QUERIAM SALVAR A MÃE"

A morte não intencional do pai deixou os dois menores, de 13 e 14 anos, em estado de choque. Os jovens foram de imediato acompanhados por psicólogos. Apesar de bastante abalados, fizeram questão de estar diante do Tribunal do Marco de Canaveses durante todo o interrogatório da mãe.

"Eles não falam da morte. Não me contaram pormenores do que aconteceu. Dizem que não querem recordar todo aquele sofrimento", contou Leonor, a tia que ficou a tomar conta dos menores.

Só com o passar das horas os menores começaram a aperceber--se da gravidade do crime. A familiares confessaram que apenas tentaram defender Emília e que, tanto eles como a mãe, em momento algum pensaram que António poderia morrer.

"Estavam sob muita emoção e nem conseguiam pensar correctamente no que estavam a fazer e nas consequências. Naquele momento só queriam salvar a mãe", explicou uma prima dos jovens.

Ao início da tarde de ontem a família de António dirigiu-se à casa de Leonor para dar apoio aos jovens, que não conseguiram esconder a emoção.

"Independentemente do que tenha acontecido, o importante agora é apoiá-los, estar ao pé deles e fazê-los perceber que não estão sozinhos", disse ao CM Joaquim Conceição, irmão de António.

in Correio da Manhã

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