terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobreviventes. Mineiros vão estar mais 120 dias debaixo de terra

Presos desde 5 de Agosto a 688 metros de profundidade na sequência do desabamento do túnel principal da mina de cobre de San José, 33 mineiros chilenos vão enfrentar um extraordinário desafio de sobrevivência. Quatro meses, 120 dias, é o tempo que as operações de salvamento podem demorar, aumentando a carga dramática numa história que o Chile segue desde o primeiro dia e que teve o ponto alto no domingo.

Às 14h30m, e quando muitos já tinham perdido a esperança de encontrar sobreviventes, 17 dias depois do desabamento e de uma sucessão de fracassos acumulados pelas equipas de resgate, eis que uma sonda traz à superfície um papel gasto, com uma mensagem escrita a marcador vermelho: "Estamos bem no refúgio, os 33", escreveu Mário Gómez, um experiente mineiro de 63 anos que se transformou no líder do grupo. Para gáudio dos chilenos: "Esta mensagem saiu das entranhas da montanha, das profundezas desta mina; é a mensagem dos nossos mineiros, que nos dizem estar vivos, unidos e à espera de ver a luz do Sol e abraçar os seus familiares", disse emocionado o presidente Sebastian Piñera, depois de ter feito a viagem de Santiago até Copiapó, bem perto da mina de San José: "Quando me deram a notícia saltei de alegria no avião. Foi extraordinário." Nas imediações da mina, o agora chamado "Campo da Esperança", acumulam-se familiares, jornalistas e equipas de salvamento. No domingo as lágrimas de desespero deram lugar às de alegria; ouviram-se "graças a Deus", rezas à virgem da Candelária (considerada milagreira) e vivas ao Chile.

A mensagem assinada pelo mais velho dos mineiros mostra que os homens estão bem, mas conscientes dos desafios que os esperam. "Mesmo se tivermos de esperar meses, quero dizer a toda a gente que estou bem e vamos todos sair daqui." Para Davitt McAtteer, um antigo responsável pela segurança de minas da administração Clinton citado pelo "The Guardian", o facto de todos terem sobrevivido 17 dias debaixo de terra já é um feito, apesar de os "riscos para a saúde numa mina de cobre ou ouro serem bastante menores" se os mineiros tiverem "água, ar e comida".

Resgate É numa sala com seis metros de largura e nove de comprimento - onde têm reservas de comida, água e oxigénio - com sete quilómetros de túneis bloqueados pela frente, que os 33 homens vão ter de esperar pela abertura de um canal com 68 centímetros de diâmetro que, um a um, os há-de levar até à superfície. Um trabalho a cargo de várias perfuradoras que avançam para o abrigo a uma velocidade de 15 metros por dia.

Em condições extremas, semelhantes às vividas por marinheiros em submarinos ou astronautas em missões no espaço, a grande questão é saber se os trabalhadores vão conseguir manter-se mentalmente saudáveis durante tanto tempo. Para encontrar as melhores técnicas de auxílio aos 33 mineiros, as autoridades chilenas pediram apoio a especialistas da NASA. A prioridade passa pela satisfação de necessidades básicas - uma sonda já seguiu com alimentos líquidos ricos em nutrientes e medicamentos - mas não só. As sondas, que demoram oito horas em cada percurso, vão também levar dispositivos que permitem a comunicação com o exterior, aliviando o tremendo stresse provocado pela prisão debaixo de terra.

Nas próximas horas vai avançar um inquérito de avaliação física e psicológica e todos os mineiros deverão responder a um questionário do Ministério da Saúde chileno com onze perguntas: "Quem está a organizar o grupo? Qual é o estado do ar? A que níveis estão as vossas reservas de água? Quando foi a última vez que comeram? Estão feridos ou doentes? De quê? Dói-te alguma coisa? Consegues urinar? Tens diarreia ou vómitos? Tomas alguma medicação? Acrescenta o que precisares."

Indústria Este acidente no Chile, o maior produtor mundial de cobre, volta a pôr a indústria mineira debaixo de fogo. Muitas explorações são demasiado antigas - a de San José tem mais um século - e os operadores na indústria continuam a negligenciar as condições de segurança dos trabalhadores, especialmente nos países em desenvolvimento muito dependentes de combustíveis fósseis. Na China, por exemplo, só no ano 2000 morreram 10 mil mineiros, vitimas da extensa lista de ameaças que se vive numa mina: explosões nas galerias subterrâneas, colisão de viaturas, colapso dos tectos ou concentrações de gases venenosos.

Fazer parte do corpo de segurança do presidente do Paquistão, pertencer às brigadas desactivação de engenhos explosivos improvisados no Afeganistão, pescar nos mares violentos do Atlântico Norte, são tudo ocupações que estoiram com as estatísticas da esperança média de vida. Tal como ser mineiro, como as anteriores, uma das profissões mais perigosas do mundo.

In I

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