sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Doente com gripe A teve alta após luta de um ano pela vida

O doente com gripe A, que esteve mais de um ano internado no Hospital de Faro a lutar pela vida, teve finalmente alta hospitalar. Está há dois dias num centro de reabilitação, onde vai reaprender a falar, comer, andar e tentar recuperar todas as funções comprometidas.

Renato Pedro é um dos 1436 portugueses que tiveram de ser internados devido ao vírus H1N1, mas a sua história é única, tanto em Portugal como, provavelmente, a nível internacional. Porque passou meses em coma, fez choques cépticos, teve uma pneumonia bilateral extensa, entrou em falência renal e, por várias vezes, foi resgatado de paragens cardio-respiratórias. A tudo sobreviveu. E está a recuperar bem, considerando a gravidade da situação, de acordo com Helena Gomes, directora clínica do Hospital Distrital de Faro.

Consciente, lúcido e sem défices cognitivos, Renato Pedro, 31 anos completados em Setembro no limbo do coma, tem um longo caminho pela frente. Na unidade de reabilitação, para onde foi transferido quarta-feira, e depois em casa. A convicção da equipa médica é de que vai recuperar a funcionalidade. Dito de outra forma, deverá voltar a ser uma pessoa independente e capaz de trabalhar.

A passagem para o centro de reabilitação foi cuidadosamente programada pelo hospital, que manterá o apoio ao doente. É previsível que Renato passe cerca de meio ano no centro e depois continue o processo de reabilitação em regime ambulatório.

Vivem-se, agora, momentos de grande alegria e esperança, mas o percurso foi deveras atribulado. Durante os primeiros três ou quatro meses, a situação foi “extremamente crítica”, recorda a médica. Esteve em coma induzido, ventilado e muito instável. O prognóstico estava longe de ser animador. Por alturas do Natal, começou a apresentar pequenos sinais de melhoria, num desafio claro ao jogo de probabilidades que lhe era altamente desfavorável.

Pouco a pouco, mas de forma consistente, as estatísticas foram derrotadas por uma grande vontade viver. A equipa médica espanta-se perante uma recuperação fantástica e monitoriza todos os passos. Para aprender com um caso que, a nível internacional, se afigura como único, a julgar pela pesquisa até agora realizada, explica Helena Gomes.

Ultrapassada a fase mais crítica, inicia-se a reabilitação. Actualmente, Renato lê, compreende o que ouve, executa cálculos matemáticos e, embora só consiga articular palavras muito simples (mono e bissílabos), demonstra ser capaz de raciocínios elaborados. “As funções mentais estão completamente intactas”, sublinha a directora do Hospital de Faro. Os exames imagiológicos e as avaliações neuropsicológicas não detectaram qualquer lesão cerebral ou défice irreversível, pelo que é expectável que, a nível das funções cognitivas, a recuperação seja total.

A nível motor, os progressos são também visíveis. O doente consegue ter domínio do tronco e dos braços, mas ainda não dos movimentos mais precisos da mão – não consegue escrever, barbear-se ou desempenhar outras tarefas que exijam motricidade fina –, esboça movimentos das pernas (ainda sem controlo voluntário) e apresenta movimentos em todos os grupos musculares. Por falta de coordenação da musculatura orofaringea, não consegue deglutir, pelo que é alimentando através de um tubo.

A reabilitação vai incidir na recuperação da linguagem e das funções motoras, designadamente a marcha e a deglutição. A esperança é que continue a desafiar todos os prognósticos.


In Jornal de Notícias

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