sábado, 3 de abril de 2010

Viúvas Negras


As linhas infantis do rosto não são suficientes para dissimular o desafio e a determinação do olhar, que tornam quase supérflua a arma que segura na mão. Dzhanet Abdurakhmanova escolheu morrer aos 17 anos para vingar o seu marido, um dos líderes da rebelião islamita no Cáucaso, abatido pelas forças de segurança russas a 31 de Dezembro de 2009 numa localidade do Daguestão.

Dzhanet Abdurakhmanova foi uma das duas bombistas suicidas envolvida nos atentados da passada segunda-feira no metropolitano de Moscovo, que causaram 40 mortos e cerca de 70 feridos, segundo o mais recente balanço divulgado na capital russa.

A jovem, natural da localidade de Khasavyurt, no Daguestão, nasceu em 1992 e terá conhecido Umalat Magomedov há menos de dois anos através da Internet, tendo-se tornado pouco depois mulher daquele que é apresentado como o "emir do Daguestão". O nome de Dzhanet é proveniente do vocábulo árabe jannat, que significa "paraíso" (ver caixa).

Os jornais russos referiam ontem que Magomedov terá levado a jovem à força para sua casa Magomedov é o jovem que surge lado a lado com Dzhanet na foto ontem divulgada.

Os atentados de Moscovo assim como duas subsequentes explosões na cidade de Kizlyar, no Daguestão, foram reivindicados pelo "emir do Cáucaso" e líder independentista checheno, Doku Umarov. Segundo os serviços secretos russos, as duas bombistas entraram em Moscovo num autocarro proveniente de Kizlyar.

Para Umarov, que terá radicalizado ainda mais a orientação da guerrilha islamita em relação a anteriores líderes (todos eles abatidos pelas forças russas), o ataque de Moscovo constituiu uma retaliação pela acção policial de 31 de Dezembro em que o marido de Dzhanet acabou por perder a vida.

Dzhanet e a segunda bombista, Markha Ustarkhanova, uma jovem chechena de 20 anos, é uma das chamadas Viúvas Negras, as mulheres das regiões do Cáucaso - Chechénia, Daguestão, Ossétia do Norte e Inguchétia - onde persiste uma rebelião secessionista de carácter islamita radical. Estas perderam os seus maridos em confrontos com as forças de segurança locais ou o exército russo.

As Viúvas Negras começaram a ser usadas nas operações dos islamitas desde o assalto ao Teatro Dubrovka de Moscovo, em finais de Outubro de 2002.

Emergiram entretanto novos detalhes sobre a preparação dos atentados. Assim, além de se ter estabelecido que as duas suicidas viajaram de autocarro entre o Daguestão e Moscovo, veículo que foi minuciosamente inspeccionado à entrada na cidade, sabe-se agora que as jovens contaram com cúmplices na capital russa.

A agência russa Interfax revelou que as forças de segurança sabem ter sido arrendado um apartamento em Moscovo no qual terão sido preparados os cintos de explosivos. Estes foram entregues a Dzhanet e a Markha por dois indivíduos numa estação da linha vermelha onde sucedeu o atentado.

Aparentemente, existem imagens de câmaras de vigilância em que surgem aqueles indivíduos. A sua identidade é conhecida, escrevia ontem a Interfax, e estão a ser procurados pelas autoridades.


in Diário de Notícias


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