sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Morto em casa durante 2 anos

Um emigrante português morreu, há dois anos, em sua casa, nos arredores de Paris. Mas só na passada segunda-feira foi encontrado.

Sentado num cadeirão e "literalmente mumificado”. Foi assim que os bombeiros encontraram um português, de 62 anos, morto há dois, num apartamento dos arredores de Paris, para onde emigrara. Apesar do cheiro do corpo em decomposição, ninguém deu pela sua morte.

José Gomes de Macedo, natural de de Vila Verde (Braga), era reformado da construção civil e vivia, há oito anos, em Beauregard, na periferia oeste de Paris. Há vários anos que a família, incluindo a mulher de quem estava separado e que reside em Portugal, não tinha notícias dele.

“Pode ter sido o coração. O homem estava sozinho, sentou-se, talvez tenha bebido um bocado. Sabe, os portugueses chegam-lhe bem”, comentou um vizinho, um emigrante de origem magrebina “habituado a trabalhar com outros portugueses” e que não quis ser identificado. “Ele era um homem discreto. Falava pouco e ouvia mal”, acrescentou.

Um alerta anónimo feito de uma cabina telefónica, em Poissy, na noite de domingo para segunda-feira, levou os bombeiros ao local. Foi através do número de série da prótese auditiva que as autoridades o identificaram.

Ao longo dos dois últimos anos, a renda de casa continuou a ser paga por transferência bancária automática, “como é normal”, esclareceu uma funcionária no escritório da instituição que gere os vários prédios de habitação social onde vive grande número de emigrantes. A electricidade, no entanto, estava cortada no apartamento de José Gomes de Macedo.

“Nunca demos por nada nem desconfiámos de nada. O senhor era um homem muito discreto. As rendas foram sempre pagas. A nossa preocupação é mais com aqueles que não pagam a renda...”, justificou aquela funcionária.

“Não é normal alguém morrer e estar dois anos sem ninguém dar por nada. É preciso colocar questões ao banco, aos correios, à empresa de electricidade. Um homem morre e já ninguém percebe?”, indignou-se um lojista.

A caixa do correio de José Gomes Macedo estava cheia de correspondência desde 2007. No frigorífico, os bombeiros encontraram iogurtes com data desse ano.

O caso foi classificado de “chocante e trágico” pelo embaixador de Portugal, Francisco Seixas da Costa.
“Este foi o momento mais chocante de toda a minha vida diplomática de mais de trinta anos”, frisou.

A comunidade de Beauregard, Poissy, Yvelines, na periferia de Paris, manifestou-se chocada relativamente “solidão total” do emigrante português encontrado dois anos após ter morrido na casa onde vivia.


in Público

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